Nos nossos cursos e formações, dizemos sempre que uma viagem começa em casa; devemos preparar todos os seus aspetos para não nos depararmos com surpresas, incidentes ou emergências que possam colocar em risco a nossa segurança e a de quem nos acompanha.
Não se trata de passar dias a planear o percurso; trata-se de a fazer de forma rápida e fácil.
O primeiro passo é responder a algumas perguntas simples.
- Para onde? Para onde vou? (montanha baixa, litoral, montanha média, montanha alta)
- Qual o caminho? Trilhos marcados, caminhos demarcados, percursos oficiais de caminhada, crio o meu próprio caminho
Que tipo de viagem? Vou sozinho(a), acompanhado(a), em casal ou em grupo grande? É uma viagem de um dia ou de vários dias?
- Quando? No verão, inverno, primavera ou outono
Ao responder a estas simples questões, já teremos parte da equipa escolhida para a atividade e parte da atividade preparada.
Vamos agora ver como podemos descobrir, utilizando o mapa, se a atividade que vamos realizar pode ser feita num dia, ou aproximadamente quanto tempo vamos demorar a realizá-la.
Para este cálculo, necessitaremos de identificar o percurso num mapa e saber a distância a percorrer, bem como as variações totais de elevação, positivas e negativas .
Conhecer o horário completo e ser capaz de planear os horários de ponto a ponto permitirá que saiba durante o percurso se está dentro do horário ou se precisa de regressar, pois não conseguirá ajustar-se aos horários para completar a viagem e a noite cairá sobre si, com os riscos que isso acarreta.
Precisamos de decidir a que horas iniciaremos a caminhada, tendo em conta se iremos sozinhos, em grupo ou as condições meteorológicas que iremos encontrar.
Caminharemos melhor num dia de primavera com boas temperaturas do que num dia de inverno com chuva e vento.
De que precisamos para fazer os cálculos do tempo?
- Identifique a rota num mapa (1:25000) ou (1:50000) são os mais utilizados.
- Possuir conhecimentos básicos de leitura de mapas, curvas de nível e saber calcular diferenças de cota positivas e negativas.
- Pesquise informação sobre o percurso , caso este apresente troços complicados, ou sobre as condições atuais do percurso.
(Recorde-se que o terreno real é sempre mais complexo do que um mapa bidimensional)
Obtenha as distâncias e as diferenças de altitude.
Lembre-se que podemos medir 3 tipos de distâncias.
- Reduzido
- Geométrico
- Real ou topográfico
Assim que tivermos uma compreensão clara do percurso e do que precisamos de medir, precisaremos de conhecer dois tipos de informação sobre o mapa.
1. Distância em km a percorrer: Meça no mapa utilizando uma régua, escala ou fita métrica. Lembre-se sempre da escala do mapa que está a utilizar. Pode ver isso na escala gráfica do mapa.
2. Variações totais de elevação, positivas e negativas , em metros. Deve calcular no mapa o número de curvas de nível a atravessar, tendo em conta a distância entre cada curva de nível de acordo com a escala do mapa, e depois converter o número de curvas de nível em metros de variação total de elevação.
- Nos mapas à escala 1:25.000, o intervalo entre as curvas de nível é de 10 metros, e nos mapas à escala 1:50.000, é de 20 metros.
Para o valor de "diferença de nível":
É necessário obter dois valores: ganho de elevação positivo acumulado e ganho de elevação negativo acumulado.
Uma mesma rota pode ter subidas e descidas sucessivas, pelo que precisamos de observar o percurso e somar as variações de altitude positivas e negativas separadamente.
Se determinarmos que o percurso é sempre em subida até ao cume e depois todo em descida de volta ao ponto de partida, podemos simplificar a medição subtraindo a altitude mínima à altitude máxima. O valor resultante servirá como ganho/perda de altitude, tanto positiva como negativa.
Num percurso (de ida e volta ou circular), o ganho de elevação deve ser igual à perda de elevação.
Depois de obter os dados de distância (em quilómetros) e as variações de elevação acumuladas (positivas e negativas, em metros), é altura de calcular o tempo que vamos demorar no percurso.
Para cada segmento, calcularemos dois horários.
- uma sobre a distância a percorrer
- Mais uma sobre a diferença de altitude a ultrapassar
Aplicaremos os seguintes valores de cálculo.
1. Distância a percorrer. Dependendo do tipo de estrada (terra, asfalto, trilho, trilho improvisado…), calcularemos o tempo horizontal da seguinte forma:
- Estradas e trilhos : Uma pessoa média consegue caminhar a um ritmo normal a 5 km/h.
- Trilhos, caminhos e prados: pode deslocar-se a uma velocidade de 4 km/h
- Trilhos maus , caminhos fechados e leitos de rios: estime que está a avançar a uma velocidade de 3 km/h.
2.º Ganho/perda de elevação . Dependendo se estamos a falar em metros de ganho ou perda de elevação, calcularemos o "tempo vertical" na seguinte proporção:
- Tempo para o ganho de elevação positivo acumulado (soma de todos os metros de ganho de elevação que devemos superar na subida): estimar que sobe a uma taxa de 400 metros por hora.
- Tempo para a variação negativa acumulada de altitude (soma de todos os metros de variação de altitude que devemos superar na descida): estimar que descemos a uma taxa de 600 metros por hora.
Com estes dois tempos calculados ("tempo horizontal" e "tempo vertical"), obteremos o tempo total escolhendo o tempo mais longo e adicionando metade do mais curto.
Lembre-se sempre de somar os tempos de paragem (claro que isto depende de cada pessoa).
- - 50 minutos a pé / 10 minutos de paragem
- - 3 horas de viagem / meia hora de descanso
Lembre-se que, se houver crianças, precisaremos de acrescentar mais tempo ao percurso e caminhar sempre ao ritmo da pessoa mais lenta; nunca devemos deixar ninguém para trás.
Se não tivermos a certeza se teremos tempo suficiente para completar o percurso durante o dia, devemos regressar; a maioria dos resgates envolve pessoas que se perdem à noite.
Claro que tudo isto é apenas um guia; cada um de nós conhece o seu próprio ritmo e sabe como superar os desafios. No meu caso, aplico sempre o ditado...
(Sobe como um velho, para chegar ao topo como um jovem)
